Exposições

Régua e Compasso

Coletiva
Andre Barion
Andy Villela
Carybé
Chacha Barja
Cipriano
Emanoel Araújo
Genaro de Carvalho
João do Nascimento
Josilton Tonm
Lucas Almeida
Manuel Messias
Marlon Amaro
Mário Cravo Neto
Matheus Rocha Pitta
Melissa de Oliveira
Milena Oliveira
Museul*RA
Nati Canto
Olav Alexander
Rafael D'Aló
Rafael Plaisant
Raphael Medeiros
Tiago Sant'Ana
Voltaire Fraga
Yêdamaria
20/07 - 30/11/24

Na entrada do espaço expositivo da presente mostra, o visitante logo irá se deparar com as imagens em movimento que pulsam de um monitor televisivo que exibe o longa-metragem “Bahia, por exemplo”, dirigido por Rex Schindler, no ano de 1971. Ao longo de noventa minutos de duração da película, o cineasta nascido na cidade de Parafuso, no interior da Bahia, documenta seus diversos encontros com artistas que, no momento de então, estavam a pensar e representar – em distintas formas e vertentes artísticas – a força e o mito que as terras baianas guardam debaixo de seu solo e no mistério das ondas de seu mar.


Acompanhamos entrevistas com nomes que vão de Mário Cravo à Dorival Caymmi, de Jorge Amado à Gal Costa, de Caetano Veloso à Carybé, em momentos em que Schindler coloca-se como testemunha ocular ativa do fazer artístico destes nomes incontornáveis não apenas da cultura da Bahia como, claro, do Brasil. Curiosamente, ao passo em que contemplamos as performances destes artistas visuais, musicais, performáticos, literários e além, percebemos que nenhum deles utiliza as tais “régua e compasso” que, afetivamente, tomamos emprestadas da canção “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil, composta em 1969, para o título da presente exposição.


Se esta constatação pode, à primeira vista, soar contraditória no contexto da exposição atual, logo a entendemos como um statement às avessas, afeito às formas com que a arte da Bahia sempre se utilizou de momentos de ruptura e formas de criação desviantes àqueles ditos canônicos, realizados em outros cantos do país.


Em outras palavras: a régua e compasso que a Bahia deu à Gil, aos artistas baianos e, por consequência a todo artista brasileiro que incontornavelmente influencia-se por este ethos baiano – esta “força estranha” artística que emana daqui e espraia-se por todo o território nacional – em nada tem a ver com o cartesianismo ou o rigor geométrico que a régua e compasso de Gil parecem, a priori, nos revelar.


A coletiva atual reúne, assim, trabalhos históricos e contemporâneos de artistas nascidos na Bahia e em diversas outras regiões do país. Nomes de gerações frequentemente diferentes, distantes; artistas de práticas variadas, que passam pela pintura, escultura, vídeo, som, música e além. São nomes tanto conhecidos das terras de cá (alguns deles, inclusive, integrantes das cenas do filme de Schindler) quanto outros que se espalham por todo a vastidão do resto do nosso país.


As aproximações que buscamos entre estes artistas e suas obras, no entanto, não se dão, aqui, pelas vias da familiaridade formal ou mesmo de proximidades óbvias, claramente evidentes para o visitante que estiver a percorrer os caminhos fragmentados do espaço expositivo. Ao passo em que as paredes da NONADA SSA pulsam em cores ora vibrantes e quentes como o sol da Bahia, elas também se tornam escuras em outras passagens do espaço expositivo, enaltecendo o tom de contrastante e fricção – estranhamento, mesmo – que buscamos traçar, aqui. Com régua e compasso, mesmo que estes instrumentos sejam figurativos, metafóricos. A régua e compasso baiana, sabemos, está nas mãos, nos olhos, nas mentes e (pieguices à parte), no coração de todo artista que já produziu e de todo que ainda produz neste país.


Paulo Azeco e Victor Gorgulho