Exposições

Montagem

Driano de Souza e Marcelo JP
20/07 - 19/10/24

A CASCA E O JARDIM


Vem com a gente, olha pro cinza; Entra aqui, olha pro cinza. Consegue ver aquela profusão de cor alta? Ela olha pros seus limites de um jeito bonito, né? Depois da cor que toma, vaza e escorre pro chão. O olho para em um verde: um fundo de metal contorna a possibilidade de forma aqui.


Vem com a gente olhar pra proposição de campos de cor e pro manuseio da matéria simples, pro modo como esse espaço propõe a construção de um diálogo que parte da história, da memória, do gesto e do como a existência atravessa nossos olhos e vaza de nossos dedos.


Aqui é sobre como a gente olha pra ideia de fome, de carinho, de tão, desse jeito com imagens que habitam a ideia doméstica, familiar e íntima a partir de técnicas de artesania como o fuxico, e se fazem matéria por meio da prática de Driano de Souza (Salvador, 2002); olha pro que vem da mão: cola, ou colo, a salvo. e tecendo a partir da ideia de um afeto periférico que se esgarça dos mercados populares aos dedos da bisavó, em um diálogo entre alento e nutrição que responde o seu meio de modo vertical, incisivo: ato de alimentar anonimamente a vida, ou como que em uma dança entre o que é natural ou não se esparrama e toma o espaço por meio através das pinturas de Marcelo JP (São Paulo, 1981), onde os campos de cor, as vezes diluídos, as vezes brutalmente sólidos que nos levam à questionamentos sobre os limites que existem na representação da natureza e da paisagem urbana, elegendo ao pictórico uma capacidade utópica de construção de paisagem, onde espaços interiores e exteriores se movimentam e respiram para dentro e fora da composição. Fôlego.


Olhando pra trás, é como se cheio de vontade nossos olhos são guiados ao novo advento do suporte, às novas possibilidades de veladura e do empilhamento, ao novo discurso que a relação entre o tempo e a camada autorizam no momento em que somos confrontados com o abismo imenso que é o gesto, os modos como o diluímos, sua responsabilidade com a história e também com tudo que há ali: seja mancha, seja corpo. Como uma autorização sutil, adentra os modos como representamos - ou assumimos a representação, na pintura e na escultura hoje. Essa perspectiva, que olha para o deslocamento por meio do gesto como algo autorizado, não negociado.


Guilherme Teixeira